Confissões de um escriba indolente

A ociosidade e o comodismo mental na prática da escrita cotidiana durante a vida.

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Escritora datilógrafa - imagem: Mohamed Hassan/Pixabay.
Lembrando-me da composição de Sérgio Britto na consagrada canção "Epitáfio" e parafraseando-a, vejo-me em uma sofrida lamentação futura: "devia ter escrito mais, me expressado mais"...

Afinal, quantas boas ideias, boas conclusões, bons argumentos que, por não serem oportunamente registrados, acabam perdendo forças e caindo no meu esquecimento graças a uma "amnésia-recente" associada à indolência.

O Culpado
Não posso e não devo culpar o tempo pela minha improdutividade, pois acredito que quanto menos tempo tivermos, mais conteúdo teremos. Refiro-me a conteúdos práticos, vívidos, extraídos de contextos analisados. Portanto, implica vantagem sobre o ocioso, que está mais suscetível ao comodismo mental.

Minha aplicação da frase "falar de mim é fácil, o difícil é ser eu" tem um direcionamento bem pessoal, isto é, sinto uma relativa facilidade na autodescrição — falar de mim é fácil — mas como é difícil ser esse "eu", seja pelo reconhecimento dos traços negativos ou em assumir as aptidões.

Mas, vejamos: eu gosto de uma boa leitura, de uma boa conversa, de trocar conhecimentos; gosto de interpretar cada momento, interligando tudo em um sentido global. Amo uma boa música, valorizando sobretudo a interpretação orientada pela letra que, a partir daí, se harmoniza plenamente com o arranjo. Possuo vocações religiosas pelas quais procuro me orientar em todas as situações da vida. 
Sou casado com a privacidade e sou amante da discrição.
Aprecio a quietude, o "estar só", e não me canso de dizer que sou casado com a privacidade e sou amante da discrição. Com um paladar apurado, me rendo diante de uma alimentação saudável e saborosa, com muitas frutas, verduras e legumes. Adoro relaxar, ficar bem à vontade e, claro, detesto que interrompam esse meu conforto. E, só para terminar, conservo, ainda, uma curiosidade epistemológica que não se satisfaz com superficialidades.

O Assumido
Agora sim, todas as virtudes supracitadas se desvanecem diante da infeliz realidade: como eu posso ser tão enrolado assim! Mesmo consciente, eu consigo deixar tudo para a última hora! Suponho que seja hereditário, uma vez que meu pai tem as mesmas características. Isso requer ajuda profissional, alguém sugere um especialista?

Bem, para que saibam que não me conformo com este meu estado e nem que seja congênito, eu prometo que vou me esforçar (isso é uma promessa de início de ano?) para mudar esse quadro. Vou lutar contra a indolência e a procrastinação que têm me acompanhado até hoje. Que Deus me ajude.
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