O fim da alienação aos acontecimentos sociais que dominam a realidade do indivíduo.
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O silenciamento da voz conservadora - foto: Bermix Studio. |
Futebol, política e religião não se discutem — eu cresci questionando essa afirmação. Como assim?! A quem interessa que assuntos tão dominantes como esses não sejam discutidos, debatidos e desenvolvidos para melhores esclarecimentos?
Fato é que, há muito uma parcela do povo se desprendeu de ideias alienantes como esta para uma percepção mais clara da realidade, a partir dos escândalos provenientes destas áreas da atuação humana, bem como em outras áreas. Tempos atrás, antes do avanço e popularização dos meios de comunicação, as principais informações que são do interesse público, necessárias à ação e reação da sociedade, alcançavam uma parcela seletiva das pessoas.
Hoje a informação é democrática e possui alcance global.
Hoje é possível a um sócio-torcedor conhecer os procedimentos profissionais do presidente do seu time de futebol; um cidadão consegue acompanhar a conduta de um parlamentar no exercício do mandato; e um religioso fica ciente da atitude de um líder na instituição religiosa da qual é membro, porque hoje a informação é democrática e possui alcance global. Assim, com esse conhecimento averiguado e confirmado, pode-se buscar um melhor entendimento sobre assuntos relacionados, direta ou indiretamente, com os universos esportivo, político, religioso, científico ou cultural, e apresentar questionamentos pertinentes.
Independentemente da preferência individual entre as questões do triplo tabu popular, faz-se necessário atribuir graus de importância às mesmas, o que classificaria a política e a religião, na minha visão, em posições de equivalência, enquanto que a questão esportiva funcione como uma cortina de fumaça nesta equiparação.
Neymar, Bolsonaro e Malafaia se discutem, como igualmente são discutíveis 'Casagrande, Lula e João de Deus'.
Agora, com a política e a religião equiparadas nos parâmetros da laicidade, pode-se revogar a máxima de que "futebol, política e religião não se discutem", e definir o pódio do debate ao afirmar: Neymar, Bolsonaro e Malafaia se discutem, como igualmente são discutíveis "Casagrande, Lula e João de Deus".
A sociedade em rede em que nos tornamos ampliou as discussões, de forma geral, para além do achismo leigo, uma vez que todo cidadão pode reportar outra versão de determinada realidade, capaz de contrapor uma desinformação até mesmo dos grandes veículos de mídia que se mostram, com poucas exceções, descomprometidos com a verdade e a ética. Esse direito de enviar e receber informação de modo descentralizado compõe uma democracia participativa, na qual se incluem as liberdades de expressão e de opinião.
O supremo perigo é de que a ameaça venha exatamente de onde se deveria proteger a Constituição e zelar pela democracia.
Uma sociedade verdadeiramente democrática possibilita ao cidadão a participação social na política de forma plena, e não apenas com um voto mudo e obrigatório. Mas o que se tem visto atualmente no Brasil é extremamente preocupante, quando uma censura velada é imposta, especialmente no ambiente da internet, e pessoas comuns, profissionais liberais e até parlamentares são perseguidos, coagidos e silenciados com processos e prisões por "crime de opinião"; e o supremo perigo é de que a ameaça venha exatamente de onde se deveria proteger a Constituição e zelar pela democracia. É oportuno relembrar aqui o que a Declaração Universal dos Direitos Humanos assegura:
Artigo 19: Todos os seres humanos têm direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.
Finalmente, concluo o meu pensamento com o de Charles Spurgeon: “Só os tolos acreditam que política e religião não se discutem. Por isso os ladrões permanecem no poder e os falsos profetas continuam a pregar”.
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