A fragilidade da narrativa golpista no relatório da PF contra Jair Bolsonaro
Entrevista com Bolsonaro em 2022 - imagem: @OAntagonista/YouTube. |
O jornalista Claudio Dantas, um dos mais experientes analistas da política brasileira, com trajetória em veículos de renome e prêmios relevantes no jornalismo, traz em seu artigo exclusivo uma análise cirúrgica sobre o relatório de indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Dantas destaca inconsistências e lacunas no documento da Polícia Federal (PF) que merecem ser profundamente discutidas.
A PF não reproduziu no relatório os depoimentos de militares de alta patente que são considerados peças-chave.
Estratégia retórica
Outro ponto levantado é a tentativa da PF de transformar críticas ao sistema eleitoral, públicas e amplamente debatidas desde 2019, em indícios de um “engendramento golpista”. Segundo Dantas, “a confusão entre atos preparatórios e execução é proposital”, o que sugere uma narrativa construída mais para justificar condenações do que para comprovar crimes. De fato, os atos atribuídos ao ex-presidente muitas vezes carecem de comprovação de que ultrapassaram o campo das opiniões ou dos atos preparatórios, ambos não puníveis pela legislação vigente.
Essa estratégia retórica não só fragiliza a narrativa como compromete a percepção de imparcialidade.
Além disso, Dantas levanta um aspecto político delicado: a ausência de menções explícitas ao artigo 142 da Constituição, frequentemente citado em debates públicos por apoiadores de Bolsonaro. Essa omissão revela uma tentativa de simplificar uma discussão jurídica complexa em uma narrativa de conspiração, sem explorar suas nuances e implicações.
O artigo de Dantas expõe uma preocupação maior: a politização de investigações e a fragilidade de acusações baseadas mais em narrativas do que em provas concretas. Se há crimes a serem apurados, que o sejam com rigor técnico e jurídico. Porém, quando os próprios documentos oficiais deixam de lado informações-chave, como depoimentos relevantes, e recorrem a artifícios retóricos, há o risco de transformar a justiça em um instrumento de disputa política.
O combate a supostos atentados à democracia não pode se basear em narrativas frágeis ou parciais.
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