A fragilidade da narrativa golpista no relatório da PF contra Jair Bolsonaro

Uma análise crítica sobre as inconsistências no indiciamento apontadas por Claudio Dantas.

Entrevista com Bolsonaro em 2022 - imagem: @OAntagonista/YouTube.
Entrevista com Bolsonaro em 2022 - imagem: @OAntagonista/YouTube.

O jornalista Claudio Dantas, um dos mais experientes analistas da política brasileira, com trajetória em veículos de renome e prêmios relevantes no jornalismo, traz em seu artigo exclusivo uma análise cirúrgica sobre o relatório de indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Dantas destaca inconsistências e lacunas no documento da Polícia Federal (PF) que merecem ser profundamente discutidas.

A PF não reproduziu no relatório os depoimentos de militares de alta patente que são considerados peças-chave.
No cerne do texto, Dantas aborda a acusação central do relatório: a tentativa de golpe de Estado supostamente arquitetada por Bolsonaro. A primeira observação feita pelo jornalista é a ausência de depoimentos cruciais no relatório, especificamente dos comandantes do Exército (Freire Gomes) e da Aeronáutica (Baptista Júnior), que teriam rejeitado o suposto plano golpista. Ele questiona: “Chama atenção que a PF não tenha reproduzido no relatório justamente os depoimentos de militares de alta patente que são considerados peças-chave para o entendimento de todo o plano e da participação de Bolsonaro nele.” A falta dessas informações levanta dúvidas sobre a solidez do caso construído pela investigação.

Estratégia retórica
Outro ponto levantado é a tentativa da PF de transformar críticas ao sistema eleitoral, públicas e amplamente debatidas desde 2019, em indícios de um “engendramento golpista”. Segundo Dantas, “a confusão entre atos preparatórios e execução é proposital”, o que sugere uma narrativa construída mais para justificar condenações do que para comprovar crimes. De fato, os atos atribuídos ao ex-presidente muitas vezes carecem de comprovação de que ultrapassaram o campo das opiniões ou dos atos preparatórios, ambos não puníveis pela legislação vigente.
Essa estratégia retórica não só fragiliza a narrativa como compromete a percepção de imparcialidade.
A insistência da PF na palavra “execução” é outro ponto criticado. O uso repetitivo do termo, em contextos diferentes, dá a entender que qualquer ação ou crítica era parte de um plano maior. Como aponta Dantas, “a palavra ‘execução’ é repetida 25 vezes em contextos absolutamente diferentes”. Essa estratégia retórica não só fragiliza a narrativa como compromete a percepção de imparcialidade do relatório.

Além disso, Dantas levanta um aspecto político delicado: a ausência de menções explícitas ao artigo 142 da Constituição, frequentemente citado em debates públicos por apoiadores de Bolsonaro. Essa omissão revela uma tentativa de simplificar uma discussão jurídica complexa em uma narrativa de conspiração, sem explorar suas nuances e implicações.

Seriedade fundamental
O artigo de Dantas expõe uma preocupação maior: a politização de investigações e a fragilidade de acusações baseadas mais em narrativas do que em provas concretas. Se há crimes a serem apurados, que o sejam com rigor técnico e jurídico. Porém, quando os próprios documentos oficiais deixam de lado informações-chave, como depoimentos relevantes, e recorrem a artifícios retóricos, há o risco de transformar a justiça em um instrumento de disputa política.
O combate a supostos atentados à democracia não pode se basear em narrativas frágeis ou parciais.
A análise de Claudio Dantas reforça que o combate a supostos atentados à democracia não pode se basear em narrativas frágeis ou parciais. Afinal, como ele bem coloca, “se tudo é golpe, nada é golpe”. E em uma democracia, a clareza e a precisão nas acusações não são apenas necessárias — são fundamentais.
Next Post Previous Post

Nenhum comentário